A segunda maior derrocada de um banco da história americana foi consumada na sexta (10), quando os órgãos reguladores assumiram o controle da instituição.
Neste domingo, eles disseram que todos os correntistas serão pagos integralmente, e nenhuma perda será bancada pelo contribuinte americano.
Explicamos o que se sabe até agora sobre o caso e o impacto que ele pode ter no sistema financeiro:
O banco: fundado há 40 anos no Vale do Silício, polo tecnológico mundial, o SVB se tornou uma solução para startups. Ao mesmo tempo em que precisavam de dinheiro para crescer, essas empresas, por serem novatas, tinham pouco acesso a crédito nos bancões.
Não à toa quase metade das startups americanas eram clientes do SVB.
Como chegamos até aqui? Graças ao apetite a risco gerado pelos juros zerados em 2020 e 2021, o SVB cresceu junto com seus clientes, que nunca receberam tanto dinheiro como nesse período. Os depósitos no banco cresceram 86% em 2021.
Para dar conta desse volume de aportes, o SVB começou a colocar o dinheiro em títulos pré-fixados de longo prazo do governo, um investimento tido como super seguro. Com os juros zerados, o rendimento também era baixíssimo.
Só que as startups ainda precisavam de capital para seguir operando. A solução foi começar a sacar o que elas tinham no SBV.
O que deu errado? A carteira do SBV estava muito concentrada nos títulos pré-fixados, cujos preços caem quando os juros sobem (explicamos a marcação a mercado aqui).
Para dar conta dos saques das startups, o banco vendeu US$ 21 bilhões em títulos de longo prazo, a um prejuízo de US$ 1,8 bilhões, disse o SVB na quarta (8). Ao mesmo tempo, a instituição também comunicou que iria fazer uma emissão de ações para recuperar o prejuízo. Esse foi o gatilho da crise.
No dia seguinte (9), as ações do banco despencaram 60%, enquanto as startups e seus investidores, os fundos de venture capital, correram para sacar seu dinheiro com o temor de que ele falisse.
Os pedidos de retirada somaram US$ 42 bilhões –um quarto dos ativos da instituição. O banco quebrou.
As autoridades querem evitar ao máximo que o movimento de retirada se contamine por outros bancos, principalmente os menores, como os regionais. Isso aconteceu com o Signature Bank, que tem como clientes escritórios de advocacia, e também acabou quebrando.
Para honrar com o pagamento aos clientes do SVB e evitar novas falências, as autoridades americanas trabalham com alguns planos.
A prioridade é achar um comprador, para que ele volte a operar. Se não tiver interessado, o FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation) pode ser usado além dos seus limites.
O FDIC é o equivalente americano ao que é o FGC (Fundo Garantidor de Créditos) no Brasil, entidade mantida pelo banco que garante aos correntistas o ressarcimento em até determinado valor em caso de uma instituição ir à falência.
Nos EUA, esse limite é de US$ 250 mil, mas muitas contas do SVB estavam acima desse patamar.
O Fed também anunciou que vai criar um programa emergencial de empréstimo, bancado pelo Tesouro, para que bancos que tenham que compensar saques não precisem vender títulos do governo com prejuízo.
Quais os principais impactos até aqui? Algumas startups clientes do SVB ficaram sem dinheiro para pagar os salários dos funcionários, e recorreram a seus investidores ou até a empréstimos pessoais para apagar o incêndio.
Países como Índia, Israel e Reino Unido se movimentam para proteger as startups locais que tinham dinheiro no SVB. Empresas brasileiras também estão expostas ao banco, e algumas correram para transferir seus recursos na sexta, noticiou o jornal Valor Econômico.
O Nubank, a maior fintech do país, informou ao mercado não ter qualquer exposição ao SVB.