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19/08/2022 às 13h37min - Atualizada em 19/08/2022 às 13h37min

Clube da Esquina: musical estreia em BH e exalta o talento e a amizade do grupo

Espetáculo dirigido por Dennis Carvalho percorre a história do cinquentenário e icônico álbum 'Clube da Esquina', que reuniu Milton Nascimento, Lô Borges e um timaço de músicos e poetas

Bruno Mateus
https://www.otempo.com.br/diversao/clube-da-esquina-musical-estreia-em-bh-e-exalta-o-talento-e-a-amizade-do-grupo-1.2718234

Tiago Barbosa, 37, tinha 9 anos quando teve seu primeiro contato com “Clube da Esquina” (1972), disco seminal de uma geração, pedra fundamental de um movimento que dobrou esquinas e avenidas mundo afora. Não foi pelas vozes de Milton Nascimento e Lô Borges, figuras centrais do álbum, que o ator e cantor carioca escutou aquelas canções. “Foi através de meu pai, ele tocava violão e sempre cantava as músicas do disco”, ele lembra. A capa do álbum, com a alegórica e tão falada foto de duas crianças, Cacau e Tonho, foi igualmente impactante para Tiago: “Tinha muito a ver com a gente, com a nossa infância. Aquilo ali tinha relação com minha vida, com meus irmãos. Era como se fizesse parte de mim. Ao ouvir o disco, é como se eu abrisse também meus segredos e mostrasse minha criança interior”.

Cadu Libonati, 28, tinha 17 anos quando escutou as 21 faixas do duplo “Clube da Esquina” pela primeira vez. Ele foi tomado por um estranhamento inicial. Rapidamente, tudo fez sentido. “Ficou perfeito. Eu me senti em um lugar próximo dessa energia de criar grupos, de vê-los como inspiração para mim, um jovem que se identificou com aquela turma de músicos”, conta. Aos 20, Cadu começou a tocar violão. A primeira do disco que ele tirou de cabo a rabo foi “Um Girassol da Cor de Seu Cabelo”. “Ela tem um significado grande para mim. Foi a primeira do disco que me pegou”, diz.

Cadu Libonati agora é Lô Borges e Tiago Barbosa, Milton Nascimento. Eles têm um encontro marcado: nesta sexta-feira (19), a dupla começa a viver Lô e Bituca no musical “Clube da Esquina – Os Sonhos Não Envelhecem”, que tem estreia nacional em Belo Horizonte (detalhes no fim da matéria). Depois, passa por Ipatinga, São Paulo e Rio de Janeiro.

“Clube da Esquina”, o disco, é a soma de muitas mãos e mentes pensantes, extremamente criativas, e o resultado da colaboração de uma turma que tinha Milton no comando do barco e uma porção de viajantes além do jovem Lô Borges. Por isso, Fernando Brant (Daniel Haidar), Márcio Borges (Rômulo Weber), Ronaldo Bastos (Gab Lara), Beto Guedes (Tom Karabachian), Wagner Tiso (Vitor Novello), Toninho Horta (Oscar Fabião) e Robertinho Silva (Alan Ribeiro) são protagonistas dessa história.

Marilton Borges (Léo Bahia), Salomão Borges (Rafael de Castro), Maricota Borges (Marya Bravo), Naná Vasconcelos (Celso Luz), Duca Leal (Eline Porto), Elis Regina (Elá Marinho) e a atriz francesa Jeanne Moreau (Ana Elisa Shumacher) também não poderiam faltar na trama.

Uma banda formada por seis instrumentistas acompanha os atores em 2h de espetáculo e tocam pérolas como “Para Lennon e McCartney”, “Trem Azul”, “Tudo Que Você Podia Ser” e “Clube da Esquina Nº 2” - ao todo, são 25 canções, cujos arranjos do diretor musical Alexandre Kassin foram criados especialmente para o projeto, mas respeitando a essência dos originais.

Para levar o espectador à 1972, a construção cênica buscou representar aquela época em elementos emblemáticos da história do Clube. A fachada do edifício Levy, no Centro de BH, onde moravam a família Borges e Milton Nascimento, é um dos panos de fundo do musical. São 31 cenários. “Clube da Esquina – Os Sonhos Não Envelhecem” se passa na década de 1970: vai de 72, no do lançamento do disco, a 78, quando é lançado o álbum “Clube da Esquina II”.

Há sete anos radicado na Espanha, onde construiu uma respeitada carreira no teatro musical, inclusive com uma recente indicação ao Prêmio Broadwayworld Spain como melhor ator por sua atuação em “Kinky Boots”, Tiago Barbosa não pensava em voltar ao Brasil tão cedo, mas o convite para interpretar Bituca foi aceito prontamente e encarado pelo carioca de São João de Meriti como uma responsabilidade musical, social e história.

Inevitavelmente, o ator lembrou-se de seu pai: “A primeira pessoa que pensei foi no meu pai. Ele não está mais entre nós, mas, para mim, foi como se ele me desse uma bênção. Eu precisava estar no meu país para poder representar esse homem, que tem a ver com minha infância e com o ouro do Brasil”.

O processo para encarnar o personagem foi custoso em seus cerca de 45 dias de preparação. Tiago leu tudo o que podia sobre Bituca e o Clube, viu dezenas de entrevistas e teve de se readaptar à língua portuguesa. “Foi muito difícil. A forma musical de Milton é uma construção mirabolante, arquitetônica. Cantar Milton Nascimento é outra maneira de cantar”, ele sublinha. Segundo o ator, viver um personagem tão imenso na cultura brasileira é uma honra e uma responsabilidade: “Quero fazê-lo com o maior amor e respeito, e isso não me gera nenhum peso, não me gera noites mal dormidas. Vou fazer o melhor Milton Nascimento de acordo com a minha leitura”.

O espetáculo é livremente baseado no livro “Os Sonhos Não Envelhecem – Histórias do Clube da Esquina”, de Márcio Borges, um dos principais letristas do disco que completou, em março, 50 anos. Márcio, claro, estará em uma das poltronas do Sesc Palladium para a estreia desta sexta-feira. O escritor não viu o texto da peça, tampouco os ensaios.

“Estou indo ver com total surpresa, fizemos questão absoluta de ver como uma grande novidade”, ele diz. Ao longo das últimas décadas e, especialmente em 2022, por conta do cinquentenário, o Clube da Esquina recebeu diversas homenagens e foi tema de livros, exposições, documentários e especiais de TV. Um espetáculo musical dessa magnitude, no entanto, será realizado pela primeira vez.

“São mais desdobramentos da nossa história. Eu não sei onde isso vai terminar, nem sei se vai terminar. O disco realmente ficou encravado na alma do povo brasileiro”, comenta Márcio Borges. O autor de “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo” admite que sentirá um certo alvoroço em seu coração e será impossível segurar a emoção ao ver a história dele e de seus amigos contada nos palcos. “Estou preparado para algo muito forte, pode levar o cardiologista e o desfibrilador”, brinca Márcio.

O diretor Dennis Carvalho, responsável por “Elis – A musical”, de 2013, diz que ele e Fernanda Brandalise, que assina o texto adaptado, não ficaram presos à ordem cronológica dos fatos, embora seja uma obra baseada em episódios reais. “Não é um documentário, era importante para a dramaturgia do teatro que tivéssemos essa liberdade para criarmos em cima de coisas que tinham conflitos emocionais, tristeza, amor, raiva. Eram tempos de ditadura”, pontua um orgulho Dennis: “Eu não ficava animado assim com um trabalho há muito tempo”.

O disco “Clube da Esquina” exala o espírito de uma época, mas não fica datado – muito pelo contrário, é atual, tem cheiro de tinta fresca. As canções falam de estrada, novos caminhos, vento e ventanias, sol e chuva, trem azul ou trem de doido, de algo que não será como antes ao que vai nascer. Poesia, utopia, corações americanos e uma esquina metafísica, mas que também está tanto na boêmia Santa Tereza quanto na portuária Liverpool. O que será cantando e encenado nos palcos tem a beleza, o talento, a ousadia e a amizade como ingredientes fundamentais de uma canção cinquentenária.

“A ideia de que a união entre amigos em torno de um único objetivo, que é fazer arte, funciona e pode revolucionar o modo de pensar artisticamente é o legado do Clube da Esquina. Estamos contando uma história sobre amizade e a realidade de um grupo que conseguiu mudar a história mesmo sem querer”, afirma Cadu Libonati.

O musical “Clube da Esquina – Os Sonhos Não Envelhecem” estreia nesta sexta-feira, às 20h30, no Grande Teatro do Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1.046 - Centro). Ingressos estão disponíveis na bilheteria do teatro e também na plataforma Sympla. As entradas variam de R$ 75 a R$ 240. O espetáculo cumpre temporada em BH até dia 28 de agosto: quinta, sexta e sábado (dias 20, 21, 25, 26 e 27), às 20h30, e domingo (dias 21 e 28), às 19h.

O diretor Dennis Carvalho, o assistente de direção Thiago Marinho, o assistente de direção musical Elísio Campos, a preparadora vocal Cláudia Elizeu, alguns atores do elenco e profissionais da equipe de produção de “Clube da Esquina – Os Sonhos Não Envelhecem” vão conduzir um bate-papo destinado a atores, músicos, diretores ou produtores de artes cênicas, e alunos de cursos de formação. O workshop de processo criativo é gratuito e acontece na sexta-feira (26), das 10h às 12h, no Grande Teatro do Sesc Palladium. As inscrições devem ser feitas pela  plataforma Sympla.

Durante o encontro, serão debatidos, de forma informal, os aspectos mais relevantes e os desafios de se produzir um espetáculo de teatro-musical, adaptado de uma obra biográfica.


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