Começa hoje a Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip. A homenageada deste ano é a maranhense Maria Firmina dos Reis, que, com seu “Úrsula”, em 1859, inaugurou a literatura escrita por mulheres no Brasil. A Folha preparou um guia com tudo o que você precisa saber sobre a festa deste ano.
O jornalista Walter Porto ouve especialistas na obra de Firmina e os curadores do festival para falar sobre a redescoberta da autora, que vem num momento de recuperação de escritoras esquecidas. Nos últimos cinco anos, “Úrsula” ganhou três novas edições e a Flip será palco do lançamento de uma biografia e de um livro infantil sobre Firmina.
Para quem não puder ir até a cidade fluminense, o canal Arte 1 transmite as mesas da programação oficial na televisão e o site oficial da festa as exibe online.
“Inglês, August - Uma História Indiana” (trad. José Geraldo Couto, Carambaia, R$ 139,90, 352 págs., R$ 97,90 ebook), de Upamanyu Chatterjee, chega ao Brasil mais de 30 anos após sua primeira publicação. Neste romance de formação, um jovem é enviado como funcionário público a uma pequena cidade do interior da Índia, na qual tudo lhe é estranho. “A universalidade desse personagem niilista, que reconhece a própria insignificância, alça o livro sem dificuldade ao posto de clássico”, escreve Gabriela Mayer em sua crítica.
“A Maldição das Flores” (Planeta, R$ 49,90, 256 págs., R$ 34,90 ebook) é o primeiro romance da carioca Angélica Lopes. O livro acompanha gerações de uma família de mulheres rendeiras. O mérito da obra, segundo Mayer, que também assina essa crítica, é “a construção de uma imagem potente de uma tradição que atravessa gerações e fortalece mulheres”.
da estante
Começou mais uma Copa do Mundo de futebol masculino e o Brasil estreia amanhã no Qatar. Com interesse ou não pela competição, o leitor e a leitora podem aproveitar o clima para diversificar os livros na estante.
Minha sugestão é escolher suas próximas leituras a partir dos adversários da nossa seleção, que divide o grupo G com Sérvia, Suíça e Camarões.
A primeira partida pode ser a ocasião de ler “Ponte sobre o Drina”, do iugoslavo de língua sérvia Ivo Andric, vencedor do Nobel em 1961, publicado por aqui pela Grua.
Na próxima segunda, enfrentamos a Suíça, país de Robert Walser, escritor admirado por gente como Kafka e J.M. Coetzee. De expressão alemã, ele é autor de romances e de muitos contos, como os que estão reunidos em “Absolutamente Nada e Outras Histórias”, publicado pela editora 34.
E, para marcar o último jogo da fase de grupos, um mergulho na vida de três mulheres escrito pela camaronesa Djaili Amadou Amal. No romance “As Impacientes”, que saiu pela Imã, três narradoras dão conta de situações de violência sofridas no meio familiar e dos conflitos gerados pela poligamia.
O Brasil avançando para as oitavas de final, nosso quarto adversário virá do grupo H, que tem Portugal, Gana, Uruguai e Coreia do Sul. Ficamos na torcida literária.
Em “Os Indesejados”, o jornalista Rubens Glasberg conta não apenas a história de seus pais, Elisa e Hans, austríaca e alemão judeus que chegaram ao Brasil nos anos 1940. Ele faz também um relato do antissemitismo no Brasil do Estado Novo e das políticas implementadas na Europa pós Primeira Guerra. João Batista Natali escreve sobre o livro na seção Mundo Leu.
Dia 31 de outubro marcou os 120 anos de Carlos Drummond de Andrade. Em sua coluna, o jornalista e escritor Tom Farias conta como conheceu o escritor, nos anos 1980, e como estabeleceu com ele uma relação marcada por cartas e visitas.
em roda
O Encontro de Leituras, evento mensal em parceria com o jornal Público, de Portugal, recebe em dezembro Pilar del Río, que fala sobre “A Intuição da Ilha - Os Dias de José Saramago em Lanzarote”. A reunião acontece dia 13, terça-feira, às 19h de Brasília, neste link ou na reunião 863 4569 9958. A senha de acesso é 553074.
No novo episódio do podcast Ilustríssima Conversa, o jornalista Eduardo Sombini entrevista a antropóloga Letícia Cesarino, que lança o livro "O Mundo do Avesso: Verdade e Política na Era Digital". Ela fala sobre como a universalidade liberal desaparece nas novas mídias para dar lugar a um modelo bifurcado, em que os extremos ganham mais espaço na arena pública e em que o reconhecimento do outro só acontece dentro de um grupo coeso.
Morreu no domingo o cineasta francês Jean-Marie Straub, aos 89 anos. Junto de Danièle Huillet, ele formou uma dupla responsável por filmes como “Gente da Sicília” e "Crônica de Anna Magdalena Bach". O crítico Sérgio Alpendre liga suas obras às de Manoel de Oliveira e Marguerite Duras , marcadas por uma busca de um cinema artesanal, trabalhando imagem e palavra. “No cinema de Duras e Oliveira, a palavra transforma a imagem, criando uma espécie de não-cinema que era, paradoxalmente, cinema na essência. No cinema de Straub e Huillet a imagem transforma a palavra, da mesma forma que, em seus primeiros filmes, transformava o espaço”, escreve ele.