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04/08/2022 às 13h16min - Atualizada em 04/08/2022 às 13h16min

Opinião - Brasil: Bancário guarda nota de empréstimo que permitiu sair disco Clube da Esquina

Mineiro preservou documento assinado por Milton Nascimento e Márcio Borges há 50 anos

Nina Rocha Belo Horizonte
https://www1.folha.uol.com.br/blogs

Assinaturas, contratos e notas fiscais foram parte trivial da rotina do mineiro Antônio Carlos Figueiredo, 76. Por 22 anos, o economista foi empregado do Banco do Progresso de Minas Gerais. Uma história comum que, nos anos 70, cruzou com a do cantor Milton Nascimento e permitiu nascer um dos álbuns mais icônicos da MPB, o Clube da Esquina.

Era outubro de 1971 quando uma dupla de músicos foi até a sede do banco no centro de Belo Horizonte em busca de dinheiro para bancar a gravação de um álbum.

Milton Nascimento e Márcio Borges eram vizinhos de Antônio Carlos no Edífico Levy, prédio tradicional da Avenida Amazonas, no centro na cidade. Aos 29 e 25 anos, respectivamente, ganhavam reconhecimento no cenário musical da cidade, mas ainda não tinham fama e a condição de arcar com os custos da produção de um álbum.

A intenção dos músicos era locar uma casa na praia, onde pudessem escrever e compor coletivamente. Para financiar a produção, precisariam de um empréstimo.

"Queriam alugar uma casa em Niterói. De cara, falei das dificuldades que havia de se fazer esse empréstimo, porque o banco não acreditava em artista", conta o economista.

A responsabilidade de Figueiredo na época era o setor de empréstimos e por suas mãos passaram centenas de notas promissórias que certificavam que os credores pagariam as dívidas com a instituição bancária.

Liberar um valor de 2200 cruzeiros —equivalente hoje a cerca de R$ 35 mil— para artistas não era padrão do banco. "Eu sabia do potencial deles", conta o economista, que insistiu com um diretor e disse até que assumiria a dívida caso não fosse quitada.

O valor integral do empréstimo foi pago dois meses depois e o disco em questão, Clube da Esquina, saiu em março do ano seguinte, em 1972. Milton, Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta e uma série de músicos e compositores mineiros lançavam um dos discos mais importantes da cultura nacional.

Na capa, uma foto icônica do fotógrafo Cafi com duas crianças sentadas no chão de terra. No álbum, músicas que hoje se consagraram grandes canções e fazem parte do repertório do que é hoje considerado por especialistas como o melhor disco da música brasileira, como "Cais"’, "Paisagem da Janela", "Trem Azul" e "Um girassol da cor do seu cabelo".

Figueiredo ganhou uma cópia autografada do "Clube da Esquina" e a nota promissória assinada por Milton e Márcio Borges nunca foi retirada.

O item faz parte do Museu do Cotidiano, projeto que criou há quase 30 anos para reunir objetos inusitados.

O ex-bancário conta que não havia como prever o sucesso que o disco e os próprios músicos alcançariam, mas preservou o documento porque, no mínimo, teria um autógrafo do Milton Nascimento, que já havia se destacado no Festival Internacional da Canção de 1967.

"É uma assinatura dele, enquanto pessoa física, em um documento oficial", comenta o bancário, que mantém a nota autografada em seu acervo.

Depois de um tempo, a maioria dos documentos bancários acabaram se tornando insignificantes, sem valor legal e sendo até descartados, mas o apreço por objetos curiosos fez Antônio Carlos guardar uma destas notas. "Eu já tinha um espírito de guardar as coisas, de dar valor ao que ninguém normalmente dá",

"Tem muita gente que acha que tenho um antiquário ou que sou um colecionador. Meu foco é o objeto do cotidiano e suas histórias. Este objeto, por exemplo, conta uma história da música e também um pouco da história da minha própria vida. Se sou colecionador de algo, é de histórias."


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