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13/12/2021 às 10h32min - Atualizada em 13/12/2021 às 10h32min

Pais da 'geração redes sociais' buscam entender danos à saúde agravados na pandemia

CNN conversou com pais de adolescentes que sofrem problemas online como bullying, problemas de imagem corporal e pressão para serem sempre admirados

Samantha Murphy Kellyda CNN
https://www.cnnbrasil.com.br/saude/
Retorno às aulas presenciais: ainda que os alunos estejam ávidos pela interação social, ela gera muitas incertezas que podem causar ansiedade Külli Kittus/Unsplash

Em setembro passado, poucas semanas depois do início do ano letivo nos Estados Unidos, Sabine Polak recebeu um telefonema do orientador pedagógico da escola.

Sua filha de 14 anos estava sofrendo com depressão e pensava em suicídio. “Eu perdi o chão”, contou Polak, 45, que mora em Valley Forge, Pensilvânia.

“Eu não tinha ideia de que ela sequer estava se sentindo para baixo. Quando eu perguntei a ela sobre isso, ela continuou dizendo que queria ficar longe de tudo, mas eu não sabia o que isso significava.”

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Depois de levá-la a um centro que lida com crises mentais, que proibia o uso do telefone por qualquer pessoa que desse entrada no local, Polak soube por sua filha que as pressões das redes sociais estavam aumentando sua ansiedade.

A principal fonte de estresse: esperar que seus amigos abrissem e respondessem a mensagens e fotos no Snapchat.

“Tornou-se algo muito viciante para ela essa sensação de que você sempre tem que estar ligado e sempre responder a alguém para ser visto ou existir”, contou a mãe.

“Ela olhava para o telefone e passava da calma completa para uma saída raivosa do carro, e passava o resto da noite enrolada na cama.”

Polak ativou alguns dos controles dos pais do telefone, mas eles eram fáceis de serem contornados pela filha. A mãe retirou o telefone da adolescente, mas temeu que essa mudança só levasse a filha a pensar em tirar a própria vida novamente.

Ao devolver o celular, ela descobriu que a filha “se consolava” com outra rede, o TikTok – tanto, na verdade, que “ela literalmente acredita que não consegue dormir sem ele”.

Como disse Polak, sua filha “se sente perdida, do tipo não ter ideia do que fazer se não estiver nas redes sociais”.

Polak está entre uma geração de pais que não passaram sua infância com aplicativos de mídia social e agora estão lutando para entender e navegar pelos danos potenciais que as redes podem ter sobre a saúde mental de seus filhos.

Em entrevistas no mês passado, mais de dez pais falaram com a CNN sobre como lidar com adolescentes que sofrem com problemas online, como bullying, problemas de imagem corporal e pressão para serem sempre admirados.

A maioria dos pais disse que esses problemas começaram ou foram agravados pela pandemia.

Com os filhos isolados dos amigos, as mídias sociais se tornaram uma tábua de salvação e o tempo de tela aumentou.

A questão do impacto das redes sobre os adolescentes ganhou atenção renovada nos últimos meses, depois que ex-diretora do Facebook Frances Haugen vazou centenas de documentos internos, com alguns mostrando que a empresa sabia do potencial do Instagram de impactar negativamente a saúde mental e a imagem corporal de uma pessoa, especialmente entre adolescentes.

Mas a delatora também mencionou o impacto sobre os pais. Durante seu depoimento ao Congresso dos EUA em outubro, Haugen citou uma pesquisa do Facebook que revelou que crianças e adolescentes acreditam que estão lutando com problemas como imagem corporal e bullying sozinhas porque seus pais não podem orientá-los.

“Fico mais triste quando vejo no Twitter as pessoas culpando os pais por esses problemas com o Facebook, dizendo coisas do tipo: ‘É só tirar o telefone do seu filho’. Mas a realidade é que é muito mais complicado do que isso”, afirmou Haugen no depoimento.

“Muito raramente você tem uma mudança geracional em que a geração que lidera, como os pais que orientam seus filhos, tem um arsenal de experiências tão diferente que não têm o contexto para apoiar seus filhos de forma segura”, acrescentou.

“Precisamos apoiar os pais. Se o Facebook não protege as crianças e jovens, pelo menos precisamos ajudar os pais a apoiá-los”.

O Facebook, que se rebatizou como Meta em outubro, tentou várias vezes desacreditar Haugen e disse que seu depoimento e relatórios sobre os documentos descaracterizam suas ações e esforços.

Mas o clamor das divulgações da delatora pressionou o Facebook a repensar o lançamento de um aplicativo do Instagram para crianças menores de 13 anos – até hoje, menores de 13 anos não têm permissão para criar contas em qualquer plataforma Meta.

As denúncias também ajudaram a impulsionar uma série de audiências no Congresso dos Estados Unidos sobre como os produtos de tecnologia impactam crianças e adolescentes, trazendo executivos do Facebook, TikTok e a controladora do Snapchat, Snap.

Nesta semana, o chefe do Instagram, de propriedade da Meta, deve comparecer ao Congresso para responder aos legisladores sobre o impacto do aplicativo sobre os jovens usuários.

Em seus depoimentos, os executivos da TikTok e Snap mostraram humildade e reconheceram a necessidade de fazer mais para proteger suas plataformas.

Jennifer Stout, vice-presidente de políticas públicas globais da Snap, disse que a empresa está desenvolvendo novas ferramentas para que os pais possam supervisionar melhor como seus filhos estão usando o aplicativo.

O Instagram disse anteriormente que está “cada vez mais focado em abordar a comparação social negativa e a imagem corporal negativa”.

Antes da aparição no Congresso esta semana, o Instagram apresentou um recurso chamado Take a Break (“faça uma pausa”) para incentivar os usuários a passar algum tempo longe da plataforma.

A empresa também disse que planeja adotar uma “abordagem mais rígida” com relação ao conteúdo que recomenda aos adolescentes e ativamente conduzi-los para diferentes tópicos se eles estiverem insistindo em qualquer tipo de conteúdo por muito tempo.

Também está planejando apresentar suas primeiras ferramentas para os pais que estariam disponíveis a partir do ano que vem, incluindo um centro educacional e ferramentas de monitoramento parental que lhes permitem ver quanto tempo seus filhos passam no Instagram e definir limites de tempo.

“É possível oferecer ferramentas aos pais e dar-lhes ideias sobre as atividades de seus filhos adolescentes, mas isso não é tão útil se eles realmente não souberem como conversar com os filhos sobre o assunto ou como iniciar um diálogo que possa ajudar eles aproveitam ao máximo seu tempo online”, opinou Vaishnavi J, chefe de segurança e bem-estar do Instagram, à CNN.

Enquanto isso, membros do Congresso demonstraram raro bipartidarismo ao se unirem nas críticas às empresas de tecnologia sobre o assunto. Alguns legisladores estão agora pedindo uma legislação destinada a aumentar a privacidade online das crianças e reduzir a aparente dependência de várias plataformas – embora não esteja claro quando ou se tal legislação será aprovada.

Para alguns pais, essas mudanças não estão ocorrendo com a rapidez necessária. Sem saber o que mais fazer, os pais sentem que têm que agir sozinhos, quer isso signifique forçar mudanças em seus distritos escolares (no caso dos EUA) ou procurar conselhos de colegas em algumas das mesmas redes sociais que eles acham que causaram dor em suas famílias.

Mesmo antes das denúncias da ex-diretora do Facebook, havia preocupações em algumas famílias de que os riscos que as plataformas de mídia social representavam para seus filhos estavam apenas crescendo.

Katherine Lake contou que as mídias sociais se tornaram “tudo” para seu filho de 13 anos durante a pandemia, tanto para ele passar o tempo em casa como para se conectar com os amigos.

Ela disse que seu filho adolescente caiu em um labirinto de páginas sobre saúde mental e, mais tarde, postagens sobre automutilação, algo que o menino “nem sabia que existia antes do Instagram”. O adolescente foi hospitalizado no primeiro semestre após uma tentativa de suicídio.

“A pandemia certamente acelerou algumas das ameaças e perigos com os quais lidamos há anos”, pontuou Marc Berkman, CEO da Organization for Social Media Safety, uma agência fundada há três anos para fornecer dicas e oficinas de segurança preventiva para pais.

Alguns dados também confirmam que os problemas de saúde mental entre os jovens nas redes sociais estão aumentando.

O Bark, um serviço de monitoramento pago que analisa aplicativos de mídia social, mensagens pessoais e emails em busca de termos e frases que possam indicarpreocupações, disse ter visto um aumento de 143% nos alertas enviados sobre automutilação e ideação suicida durante os primeiros três meses de 2021 em comparação com no ano anterior.

“A vida de nossos filhos está enraizada profundamente em seus telefones e os problemas vivem em seu sinal digital, em lugares que os pais não vão”, disse Titania Jordan, diretora de marketing do Bark.

“Se você não está passando tempo em lugares onde seus filhos estão online, como você pode aprender e, então, dar orientação a eles?”

Gabriella Bermudez, uma estudante da Fordham University de 19 anos, disse ao CNN Business que começou a sofrer com problemas de imagem corporal no ensino médio depois que um garoto por quem ela tinha uma queda começou a curtir fotos de uma modelo de 30 anos no Instagram.

“Eu tinha 12 anos e olhava para ela e pensava: ‘Por que não sou assim?’”, contou Bermudez. “Eu estava coberta de espinhas. Meu cabelo era horrível. Nunca caiu a ficha que aquela era uma mulher adulta. Postei fotos minhas para parecer muito mais velha do que era”.

Mas isso começou a atrair mensagens diretas de homens mais velhos no Instagram. Ela escondeu o fato de seus pais, porque pensava que “eles nunca vão entender o que é ser jovem agora”.

“Eles sempre tiveram pressões da sociedade para ter uma determinada aparência ou se comportar de uma determinada maneira, mas isso vinha em uma revista ou na TV. Eles podiam só desligar. Já nós estamos ligados aos nossos telefones o tempo todo. Quando estamos esperando no ponto de ônibus ou caminhando para a aula, sempre somos lembrados desses ideais”.

Quando Julia Taylor precisa tomar decisões sobre sua atuação como mãe, ela às vezes recorre a um grupo do Facebook chamado “Parenting in a Tech World” (“Criando filhos num mundo tecnológico”, em tradução livre).

O filho de Taylor tem TDAH, que ela disse que o faz “ficar hiperconcentrado em certas coisas”, incluindo “qualquer coisa com uma tela”.

Taylor, que cria o filho sozinha na região de Denver, queria que ele tivesse um smartphone, “mas ele começou a hackear todo tipo de sistema de controle dos pais, às vezes ficando acordado a noite toda”.

No grupo de ajuda do Facebook, que tem 150 mil seguidores, ela e outros pais podem encontrar feedback sobre uma ampla gama de tópicos, incluindo quando uma criança deve ser autorizada a ingressar em sites de mídia social, o que fazer se ela estiver enviando ou receber textos ou fotos inadequados e recomendações de produtos, como uma docking station que mantém os dispositivos fora do quarto das crianças à noite.

No ano passado, Taylor comprou um telefone Pinwheel, um produto específico para crianças que vem sem navegadores da web e restringe o uso de mídia social. (Mais tarde, ela começou a trabalhar na empresa em tempo integral como gerente de marketing.)

Jordan, do Bark, abriu o grupo no Facebook anos atrás, depois de ingressar na empresa, quando lutava para encontrar recursos para ajudar seus próprios pais.

“Sempre foi preciso ter uma aldeia inteira para ser o melhor pai ou mãe possível e, enquanto esperamos que os legisladores e a Big Tech façam a coisa certa, ninguém será um pai ou mãe melhor para seu filho do que você. A melhor coisa que você pode fazer é aprender com outros pais que já passaram por isso, tanto seus erros quanto suas vitórias”.

Sobre essa questão, entretanto, não há respostas fáceis. As redes sociais e os smartphones vieram para ficar – e retirá-los pode prejudicar as relações sociais e o senso de independência de uma criança ou adolescente.

De acordo com Alexandra Hamlet, psicóloga clínica da cidade de Nova York, é importante que os pais ajudem os adolescentes a navegar tanto no mundo online quanto no físico, sendo compreensivos e não julgadores.

“Se pudermos ensinar e apoiar nossos filhos a usar os mesmos conjuntos de habilidades para navegar em cada mundo, aumentamos nossas chances de ter boa saúde mental”, aconselhou.

Há agora uma ampla gama de ideias de políticas sendo elaboradas para ajudar pais e filhos.

Alguns críticos, incluindo Haugen, que denunciou o Facebook, disseram que as empresas de tecnologia deveriam se afastar dos feeds de notícias algorítmicos que podem levar os usuários ao labirinto.

Dois senadores democratas têm elogiado uma legislação chamada Kids Act, que proibiria as configurações de reprodução automática e enviaria alertas com a esperança de limitar o tempo de tela.

Além disso, a Organization for Social Media Safety disse que agora está trabalhando com o Congresso para tentar aprovar uma legislação que exigiria aplicativos de terceiros para monitoramento de pais em todas as contas de mídia social de crianças de uma certa idade.

Alguns pais, dentro e fora do grupo do Facebook acima mencionado, já estão usando aplicativos de controle dos pais, além de comprar telefones de baixa tecnologia e limitar o uso das redes sociais.

Outros também chegaram ao ponto de tentar fazer com que as escolas de seus filhos tomem medidas em tudo, desde proibir telefones nas salas de aula até a repressão a incidentes de bullying online, com pouco sucesso.

Fernando Velloso, um pai de Los Angeles, disse que sua filha em idade escolar lidou com uma conta anônima de bullying provavelmente criada por colegas de classe que fizeram falsas alegações sobre sua vida amorosa.

Segundo ele, a escola não queria agir porque o fato ocorreu fora de suas instalações.

Em uma série de contas no Instagram de escolas de ensino médio da área, que foram vistas pela CNN, os alunos são incentivados a enviar dicas de fofoca para contas que chamam os alunos de trapaceiros, estupradores ou questionam sua sexualidade.

Embora o Instagram tenha banido algumas das contas, outras permanecem ativas. (Um porta-voz da Meta disse que as contas não violavam as diretrizes da comunidade, mas uma série de partes do conteúdo sim, e algumas foram removidas.)

Bermudez disse que as escolas podem fazer mais para educar os adolescentes sobre como gerenciar melhor a saúde mental e as mídias sociais.
“Precisamos ser ensinados desde muito jovens, como na escola primária, sobre como usá-las e torná-las um espaço seguro”.

Durante seu depoimento, Haugen disse que escolas e organizações como o National Institutes of Health dos EUA devem fornecer informações confiáveis para os pais aprenderem como melhor apoiar seus filhos.

Enquanto isso, a Organização para Segurança nas Mídias Sociais está lançando um programa junto ao DARE (Educação para a Resistência ao Abuso de Drogas) para entrar no currículo de milhares de escolas até o final do atual ano letivo – e assim educar os alunos sobre os perigos das mídias sociais.

Polak, a mãe do início deste texto, cuja filha teve pensamentos suicidas, propôs uma Semana de Conscientização sobre Saúde Mental na escola de sua filha, que incluiria exibições dos documentários “Childhood 2.0” e “O Dilema das Redes”, que falam sobre como as plataformas estão impactando o bem-estar de seus usuários.

Polak disse que sua filha agora está melhor e ocasionalmente acessa as redes sociais com restrições de tempo.

“Mas uma vez por semana temos uma briga por causa das redes sociais, na qual ela me questiona quando poderá voltar ao Snapchat, quando vai voltar ao TikTok. É uma luta constante e há muita pressão de amigos, bons amigos, para voltar a usar alguns dos aplicativos”.

No entanto, em uma noite recente, ela viu a filha brincando silenciosamente com o gato da família por meia hora em seu quarto.

“Eu pensei, ‘Oh meu Deus, isso é o que está faltando: as pequenas coisas do dia a dia que controlam nossa ansiedade’”, contou. “São coisas que estão completamente fora da vida adolescente neste momento”.

(Texto traduzido. Clique aqui para ler o original em inglês)

 


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