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08/12/2021 às 07h48min - Atualizada em 08/12/2021 às 07h48min

Entenda como é feita a atualização das vacinas contra a Covid-19

O processo para a produção de nova geração de imunizantes varia de acordo com a tecnologia utilizada no desenvolvimento das vacinas

Lucas Rochada CNN
https://www.cnnbrasil.com.br/saude
Vacinas contra a Covid-19, em destaque o imunizante da AstraZeneca Myke Sena/MS

Diante de uma nova variante de preocupação do coronavírus, cientistas em todo o mundo buscam responder os potenciais impactos da linhagem na capacidade de transmissão, aumento da letalidade, escape da resposta do sistema imunológico, além de possíveis prejuízos na eficácia das vacinas ou falhas na detecção pelos testes de diagnóstico atuais.

Com a variante Ômicron não é diferente. Assim que a linhagem foi identificada e classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma variante de preocupação em novembro, laboratórios produtores de vacinas deram início aos estudos para a reformulação dos imunizantes contra a Covid-19.

O processo para a atualização das vacinas varia de acordo com a tecnologia utilizada na produção dos imunizantes.

As vacinas consideradas clássicas, como a Coronavac, utilizam o vírus inativado ou atenuado, incapaz de se replicar. Os imunizantes também podem ser produzidos a partir de adenovírus enfraquecido, microrganismo que causa resfriado em chimpanzés, que transporta os genes virais do coronavírus para dentro das células humanas, como as vacinas da AstraZeneca, da Janssen e a Sputnik V.

Um terceiro tipo de tecnologia está associado às vacinas genéticas, como a da Pfizer, que utiliza o material genético do novo coronavírus desencadeando a resposta imune.

A Coronavac, produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, é fabricada a partir da inativação do SARS-CoV-2, vírus causador da Covid-19.

O processo envolve a identificação e isolamento das linhagens do vírus, e a avaliação de uma série de critérios, como a ausência de microrganismos ou agentes contaminantes externos, características como o crescimento estável das cepas e a capacidade de gerar a resposta imunológica.

O primeiro passo para a atualização da vacina é isolar a nova cepa do coronavírus. Na sequência, os pesquisadores realizam testes de anticorpos neutralizantes, que são aqueles capazes de bloquear a ação do vírus no organismo. O processo, que deve durar três meses, de acordo com a Sinovac, inclui avaliações e estudos clínicos em diferentes faixas etárias.

“A Coronavac, vacina de vírus inativado, se assemelha bastante ao processo de atualização da vacina da gripe. Você vai receber a linhagem, crescer o vírus em cultura de célula e passar por um processo de inativação”, explica o pesquisador José Eduardo Levi, da Universidade de São Paulo (USP).

As vacinas de tecnologia de RNA mensageiro são desenvolvidas a partir do código genético do coronavírus, que guarda as informações necessárias para que o organismo humano produza a proteína específica do vírus que desperta a resposta imunológica.

Quando a proteína produzida pelo organismo é apresentada ao sistema imune, são desencadeadas ações de combate ao invasor, incluindo a produção de anticorpos neutralizantes e a resposta celular, que consiste na ativação de outras células de defesa do organismo, os chamados linfócitos T.

As vacinas da AstraZeneca, da Janssen e a Sputnik V utilizam diferentes metodologias, mas o mesmo princípio de adenovírus enfraquecido que leva as informações genéticas do SARS-CoV-2 para as células humanas.

De acordo com o virologista da USP, a atualização de vacinas de vetor viral e de RNA mensageiro é ainda mais simples do que os imunizantes de vírus inativado, como a Coronavac. Segundo Levi, a nova geração de vacinas deve ser disponibilizada ainda no primeiro trimestre de 2022.

“O RNA mensageiro é a cópia fiel do genoma do vírus. Os pesquisadores utilizam a sequência do RNA mensageiro da proteína Spike da variante Ômicron, produzem sinteticamente esse material e, a partir daí, desenvolvem a nova geração da vacina”, explica.

Para as vacinas de adenovírus, um vírus de DNA, é preciso modificar a sequência genética para realizar a atualização. “Você tem que garantir que uma vez injetado no organismo, o adenovírus consiga manter a expressão que vai de DNA para RNA e para a proteína Spike”, afirma Levi.

A variante Ômicron já foi identificada em amostras de pacientes de diferentes países que receberam a vacina contra a Covid-19. Para o pesquisador da USP, os casos podem estar associados às diversas mutações da nova linhagem, que podem favorecer tanto o escape da resposta imunológica formada a partir da infecção natural quanto por aquela desenvolvida a partir da vacinação.

“Essas mutações mudam aminoácidos de posições da proteína Spike que são importantes para a estimulação do sistema imune. Essa mudança confunde o sistema de defesa do organismo, assim o vírus consegue escapar. Essas mutações também ajudam o vírus a escapar da vacina, que mimetiza a infecção natural”, explica Levi.

Segundo o pesquisador, a resposta imune conferida pela vacinação é mais robusta do que a produzida pela infecção pelo vírus. Embora o vírus tenha sido detectado em pessoas vacinadas, o pesquisador considera que são necessários estudos complementares para afirmar a real dimensão do escape do vírus à resposta vacinal.

“A variante começou a se espalhar pelo mundo, mas em termos numéricos ainda está prevalente na África do Sul. O único lugar que poderia dar essa primeira informação de escape vacinal é a África do Sul”, diz. “Eles vão precisar analisar as pessoas que tiveram Covid-19 por Ômicron e avaliar estatisticamente quantas tomaram vacina. Entre as que tomaram, quantas tiveram Covid-19 e quantas não tiveram a doença e avaliar a taxa de incidência”, completa.

A cada ano, temos uma nova campanha de vacinação contra gripe. Isso acontece porque o vírus influenza, causador da doença, tem uma taxa expressiva de mutações genéticas, exigindo que a composição das vacinas seja revisada periodicamente para a manter a proteção.

Para definir a composição do imunizante, cientistas que integram os Centros Nacionais de Influenza (NICs, na sigla em inglês) atuam no acompanhamento permanente das mudanças genéticas do vírus.

Com estudos realizados a partir da análise de amostras de pacientes, os pesquisadores fornecem dados que abastecem o Sistema Global de Vigilância e Resposta à Influenza da Organização Mundial da Saúde (OMS).

No Brasil, o Laboratório de Vírus Respiratório e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) é o responsável pelas análises e monitoramento do perfil genético do vírus em sintonia com o Instituto Adolfo Lutz, de São Paulo, e o Instituto Evandro Chagas, do Pará.

Os pesquisadores analisam amostras enviadas por unidades sentinelas espalhadas por todas as regiões do país. Além de acompanhar a evolução dos distintos grupos de influenza, por meio de análises filogenéticas, os pesquisadores atuam na identificação de cepas variantes dos vírus que circulam durante as epidemias sazonais, que acontecem a cada ano, principalmente no inverno.

“Todos os países com Centros Nacionais de Influenza são parte dessa engrenagem altamente complexa, que nos permite proteger a população mais vulnerável ao vírus a partir da formulação de composições da vacina atualizadas com o perfil genético do vírus que está em circulação”, afirma o pesquisador Fernando Motta, do Instituto Oswaldo Cruz.

Para definir a composição das vacinas que serão aplicadas nas próximas temporadas de influenza, a OMS realiza reuniões com um grupo consultivo de especialistas duas vezes por ano. Os encontros acontecem entre os meses de fevereiro e março para deliberar as recomendações voltadas para o hemisfério Norte e, em setembro, para o hemisfério Sul.

Durante as reuniões, os especialistas analisam dados de vigilância produzidos pelos Centros Nacionais de Influenza, além de informações sobre a caracterização genética dos vírus e estudos de sorologia em humanos com vacinas de vírus inativado.

O grupo avalia, ainda, dados de resistência aos medicamentos antivirais e resultados da eficácia da vacina utilizada na temporada atual e nas anteriores. Com base no conjunto de análises, a OMS emite, ao término dos encontros, a recomendação das cepas que devem compor o imunizante.

O documento é usado por agências nacionais de regulamentação de vacinas e empresas farmacêuticas para desenvolver, produzir e licenciar vacinas contra o vírus. No Brasil, as vacinas contra a gripe são produzidas pelo Instituto Butantan e aplicadas gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em grupos específicos determinados pelo Ministério da Saúde.

As epidemias sazonais são causadas principalmente por variações de três vírus Influenza: dois do tipo A (os subtipos H1N1 e H3N2) e um subtipo de influenza B (que, por sua vez, se divide entre as linhagens Yagamata e Victoria).

As vacinas trivalentes contra gripe são construídas para recobrir essas três variações, considerando sempre o perfil genético dos vírus predominantes na temporada anterior. Já as vacinas quadrivalentes possuem formulação idêntica, com o acréscimo da linhagem de influenza B restante.

 


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