O ceticismo está na recusa instintiva de aceitar o mero bom senso —ou, subindo o degrau da sofisticação, o conhecimento científico testado e provado.
Uma vacina nunca é uma vacina. A Terra não é esférica. Taylor Swift não namora com Travis Kelce. Nada é o que parece.
Mas depois, num salto de fé rumo ao delírio, o conspiracionista acaba por acreditar em versões da realidade que são infinitamente mais implausíveis do que os fatos que ele contesta.
As vacinas são uma forma de controle social promovido por comunistas. A Terra é rigorosamente plana, caso contrário o pessoal do hemisfério Sul cairia no espaço (cuidado, Brasil!). Taylor Swift e Travis Kelce são agentes socialistas ao serviço do Partido Democrata.
Eis o paradoxo: a cabeça de um conspiracionista só acredita no inacreditável.
Conheço casos. Convivo com dois ou três. E, perversamente, gosto de alimentar a paranoia deles (são sempre "eles"; as mulheres, mais inteligentes, não costumam figurar nessa comédia).
Falo de guerras, crises econômicas, dramas políticos domésticos. Uso fatos, evidências, registros históricos.
Para tudo isso, os meus conspiracionistas têm uma explicação original, deliciosamente imbecil e absolutamente sigilosa: ninguém pode saber o que só eles sabem (caso contrário, os enfermeiros podem chegar a qualquer momento, imagino).
Se, pelo contrário, eu próprio fabrico uma conspiração (minha última investida foi tentar convencer um familiar que a roupa interior que importamos da China contém químicos que tornam inférteis os ocidentais), o conspiracionista medita um pouco e recebe de braços abertos essa pérola de informação.